Investigações mostram como PCC usa política de Bolsonaro
Vitor Furtado, o Bala 40, foi surpreendido pela polícia do Rio vendendo armas para bandidos. Tinha um arsenal com 26 fuzis e outras armas avaliado em R$ 1,8 milhão.
Em São Paulo, no Lageado, zona leste, os policiais do Departamento de Narcóticos (Denarc) encontraram fuzil, carabina, duas pistolas e dois revólveres com Diego Izidoro, de 35 anos, acusado de participar de um esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em Uberlândia (MG), a Polícia Federal apreendeu na casa de um outro integrante do PCC duas carabinas, um fuzil T4, duas pistolas, uma espingarda e um revólver.
Ocorridos em três Estados diferentes, eles não são casos isolados e indicam uma nova forma de agir do crime organizado.
Todas essas armas foram compradas legalmente por laranjas ou por criminosos com ficha criminal que se registraram como colecionadores, atiradores ou caçadores, os chamados CACs.
Policiais e especialistas no combate ao crime organizado afirmam que isso é consequência do decretos e portarias sobre armas que o governo de Jair Bolsonaro editou em 2019 e em 2020, ampliando o acesso a armas de fogo potentes, a munições e ao porte.
A nova situação permitiu aos bandidos a opção de comprar armas a um preço até 65% menor do que eram obrigados a pagar quando tudo vinha pelo contrabando da Bolívia ou do Paraguai. É o que diz o promotor Lincoln Gakiya, um dos maiores especialistas do País no combate ao crime organizado. "É muito fácil pegar um laranja e tirar o certificado de CAC."
O documento é concedido pelo Exército. Se for para ser atirador, o criminosos poderá comprar 30 armas com esse registro, sendo 15 fuzis de uso restrito e 6 mil munições por ano. Já se o bandido obtiver o registro de colecionador, ele não terá limite de compra de armas, desde que adquira apenas cinco de cada modelo, como os fuzis AR-15 e Rugger (R$ 8 mil).
"Eles (integrantes do PCC) pagavam de R$ 35 mil até R$ 59 mil num fuzil no mercado paralelo e agora pagam de R$ 12 mil a R$ 15 mil um (fuzil calibre) 556 com nota fiscal", disse o promotor.
Segundo ele, foram detectadas em várias investigações do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) ordens da facção para que membros do grupo obtivessem o registro de CAC. Gakiya não é contrário aos CACs - ele mesmo é CAC há 30 anos, desde que entrou no Ministério Público.
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