A VIDA, A ARTE, E A MORTE DO ARTISTA PLÁSTICO MANUEL APOLINÁRIO

  Por Ednaldo Rodrigues e Edivaldo Bernardo

MANOEL APOLINÁRIO OLIVEIRA DE SOUSA nasceu em 8 de maio de 1970, na comunidade Caeçuepar, Aveiro-Pará e faleceu em 1º de dezembro de 2020, em Santarém-Pará, aos 50 anos de idade. Em 2015 recebeu o título de Cidadão de Santarém, concedido pela Câmara Municipal, uma das honrarias mais importantes do município. O artista teve reconhecida atuação como poeta, compositor, ator, escultor, pintor, ensaísta, radialista e cenógrafo. Tornou-se conhecido na região do Baixo Amazonas pela construção dos letreiros de identificação das cidades de Santarém, Vila de Alter do Chão, Itaituba, entre outras. Apolinário também expôs seu trabalho artístico em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Argentina e na França.

Foi exemplar como pai de família, rigoroso na educação de seus filhos e muito competente como artista. Apolinário, no entanto, não conseguiu se livrar dos traumas da pobreza contraídos na infância, que o acompanharam por toda a vida, transformando-o num personagem controverso em termos de responsabilidade com suas atividades artísticas. Dotado de inteligência acima da média, versátil e perfeccionista em matérias de seu interesse, viveu sempre do seu jeito e nem sempre concordava com os padrões estabelecidos pela sociedade vigente. 
Criativo, versátil, inovador talentos particulares com os quais fez história na vida e nas artes, inclusive na literatura. Algumas de suas poesias estão publicadas na “Coletânea santarena da nova poesia”, livro organizado por Ednaldo Rodrigues no início de 1990. 
Alguns episódios revelam também o personagem controverso do Apolinário, como ocorreu por ocasião de uma exposição no pátio das Faculdades Integradas do Tapajós (FIT), com uma temática que mostrava a angústia interior do artista, como via Deus na história do homem. Apolinário optou pela pintura abstrata, o que não permitia o entendimento dos traços aplicados nas pinturas. Antes de terminar a exposição, como houve muitas críticas e por não ter comercializado nenhum de seus quadros, recolheu as telas, as reuniu no meu do pátio, jogou gasolina, ateou fogo e isso repercutiu na imprensa local e regional, mostrando a sua indisciplina; outro evento desse ocorreu durante uma exposição temática no Colégio Dom Amando, a partir de algumas músicas do Maestro Wilson Fonseca, em um total de 12 telas, mas ele só vendia a coleção. Embora muitas pessoas tenham manifestado interesse em comprar as peças em separado, Apolinário não as vendeu. Ao terminar a exposição retirou os quadros e disse que preferia queimá-los, mas depois alguém comprou a coleção para evitar que ele as queimasse assim como ocorreu no pátio da FIT. 

A obra do Apolinário reflete sempre o interior do artista, a angústia, os conflitos, ansiedade, tristeza, solidão, o descontentamento diante da vida por ser de origem humilde e de cor. A obra dele de certa forma revela o lado obscuro do artista, um retorno ao barroco, confuso, complexo. Utilizava cores escuras, o preto, o marrom, o vermelho, muita sombra e traços não lineares, curvos, tortuosos, desencontrados, revelando as suas inquietações e instabilidades. Essas características são perceptíveis, principalmente na pintura e na poesia de Apolinário. 

A grande contribuição do Apolinário à cultura local e regional está relacionada à divulgação dentro e fora da região, devido a quantidade de sua produção em três décadas. O artista sempre viveu de sua arte e fez muito em pouco tempo e a sua obra está em muitos lugares.

A mensagem da sua arte está relacionada a uma passagem da Bíblia Sagrada que destaca os dons, a exemplo da profecia, da sabedoria e, no caso do Apolinário, seria o dom da arte, por se tratar de alguém com pouquíssimo estudo, mas que conseguiu inovar sempre. Alguém que não fez nenhuma faculdade, mas a sua arte sempre foi grandiosa, reflexiva do ponto de vista filosófico e com elevada crítica social, com uma capacidade singular de ver o mundo e de criar, devendo-se a sua própria genialidade. 

Pressupomos que algo de melhor pode ter deixado de acontecer ao Apolinário devido a sua própria instabilidade, muitas vezes confundida com arrogância, prepotência, por isso também incompreendido, injustiçado. A postura de algumas pessoas em relação a ele decorria da indisciplina dele, o que contribuiu para que fosse profundamente injustiçado, não porque as pessoas eram injustas, mas em função dos traumas que o artista sofreu na infância. Em algumas situações as pessoas acabavam o aceitando mais em função da sua capacidade de produzir, de criar. Essa injustiça ficou escancarada depois de sua morte, pois mesmo sendo muito conhecido, com uma produção visível na região e fora do estado ainda assim não recebeu qualquer homenagem, nem mesmo o poder público fez sequer uma nota. As homenagens, os registros foram feitos por particulares, pessoas que o conheciam (Neucivaldo Moreira, Ednaldo Rodrigues, Edivaldo Bernardo), mas até mesmo com relação a punição ao acusado da morte do artista, a resposta da justiça foi extremante lenta até chegar ao desfecho de punir o culpado. 

Apolinário Oliveira, no entanto, será imortalizado pela sua arte e seu legado vai sobreviver ao tempo, extrapolar fronteiras e jamais será esquecido pela história e pela cidade que o acolheu (Santarém). Será sempre motivo de orgulho aos seus familiares, parentes e amigos pela sua bravura e genialidade na vida e nas artes.

Comentários

  1. O Artista incompreendido. Essa é a sina que o acompanhava. De seus defeitos como ser humano, as qualidades do artista o superou.

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